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Saiba o que a animação Divertida Mente revela sobre as emoções



A animação Divertida Mente 2 se tornou a maior bilheteria do cinema de 2024 em duas semanas, sendo um dos lançamentos mais aguardados do cinema em 2024, que traz uma mensagem impactante para os adultos. Além da animação oferecer um excelente entretenimento, o filme nos oferece uma oportunidade valiosa de refletir sobre as nossas próprias emoções e como elas nos influenciam. Ele mostra de forma simples como nossas crenças centrais, no filme chamadas de convicções, são desenvolvidas a partir da internalização das experiências que vivemos e que elas são a base de quem somos hoje.


Boa parte do enredo se passa na cabeça de Riley, uma menina que enfrenta todos os desafios da transição para a adolescência — o Divertida Mente 1, acompanha a personagem durante a infância.


As estrelas principais da história são as emoções. No primeiro filme, conhecemos Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojo. Na parte dois, a turma ganha os reforços de Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio.


A partir da interação desses personagens, Riley reage, cria memórias e forma traços de personalidade. Mas o que há de ciência por trás da animação?


A seguir, você confere o que o filme Divertida Mente 2 ensina sobre o cérebro, as emoções e a saúde mental.


A Importância das emoções na experiência humana

As emoções têm um papel crucial na nossa vivência, servindo como uma orientação interna que influencia nossas interações com o mundo ao redor. Elas vão além de simples reações; são indicadores poderosos de nossos pensamentos, crenças e necessidades.


Desde tempos ancestrais, as emoções são vitais para a sobrevivência das espécies. Animais de todas as espécies mostram emoções básicas que facilitam a adaptação ao ambiente. No caso dos seres humanos, nossas emoções são ainda mais complexas devido às interações sociais, culturais e pessoais.


As emoções não são apenas sentimentos aleatórios; fazem parte de mecanismos sofisticados que nos ajudam a processar informações e a nos preparar para agir. Quando sentimos uma emoção, nosso corpo reage fisicamente e nossa mente se torna mais atenta ao que está acontecendo. Esse estado é conhecido como atenção ou hipervigilância.


Nossas emoções são moldadas pelo aprendizado cultural, regras sociais e relações interpessoais, tornando a experiência emocional única para cada indivíduo, como Divertida Mente 2 deixa claro. As emoções servem como sinais de alerta, indicando quando algo importante está acontecendo, seja internamente ou no ambiente.



As emoções ficam complexas (e diversas)

Conforme crescemos as emoções vão ganhando complexidade. Os roteiros de Divertida Mente têm como uma de suas bases as pesquisas do psicólogo americano Paul Ekman, que foi pioneiro no estudo das emoções e das expressões faciais ou corporais.


As emoções que aparecem nas animações são universais e estão em todas as culturas do mundo. A forma como essas emoções se manifestam conforme crescemos também é retratada com certa fidelidade nas duas animações, ou seja: na infância, emoções mais básicas, como alegria, tristeza, medo, nojo e raiva, são de fato as mais preponderantes.


Elas aparecem logo após os reflexos iniciais do bebê, quando ele começa a interagir com o ambiente. Nessa etapa, a criança pequena já sorri ao se interessar por algo ou chora ao sentir tristeza e medo. Porém, conforme crescemos e entramos na adolescência, outras emoções ficam preponderantes — assim como acontece na cabeça de Riley, onde ansiedade, tédio, inveja e vergonha dão as caras quando o “botão da puberdade” é acionado.


Esse grupo de emoções mais profundas já aparece na infância. “Podemos pensar, por exemplo, na vergonha, algo muito comum entre crianças. Mas de fato essas emoções não são tão complexas e ganham mais protagonismo a partir da transição para a adolescência”, diz a especialista, a psicóloga Marjorie Wanderley, especialista em saúde da criança e do adolescente do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba.




As emoções tornam as memórias inesquecíveis

As animações também retratam cada memória de Riley como uma bola de vidro — a cor da esfera define a emoção relacionada àquele episódio. Por exemplo: a lembrança da primeira vez que ela andou de patins no gelo possui tons amarelos, relacionados à alegria.


A emoção vinculada a cada episódio que vivemos torna determinadas experiências praticamente inesquecíveis. “Os processos de aprendizado são facilitados pelas emoções”, diz Wanderley. É por isso que os professores de cursinho pré-vestibular criam tantas músicas e paródias para ensinar certos conteúdos. As melodias estão relacionadas com as emoções e isso nos ajuda a memorizar as informações, complementa ela.


Certamente cada pessoa tem memórias inesquecíveis — e elas estão diretamente relacionadas ao sentimento experimentado naquele momento. E isso inclui coisas boas (o primeiro beijo, uma nota boa na prova, uma oferta de emprego, uma festa…) e ruins (um assalto, uma doença, um acidente…). Ainda no primeiro filme, conforme Riley cresce, as tais bolas de memórias ganham múltiplas cores. Ou seja, uma recordação que era amarela (de alegria) fica amarela-azul (de alegria com tristeza) ou roxa-verde (de medo com nojo).


É por exemplo, o caso de uma lembrança que temos de nossos avós. Ela pode ser alegre no início, mas, quando eles morrem, se torna agridoce, com um misto de felicidade e tristeza. Isso mostra como nossos sentimentos se aprofundam e ganham complexidade conforme envelhecemos.


Com o passar do tempo, o que a gente viveu de fato não importa tanto. O mais relevante, em termos de memória, é o significado que damos para aquele momento. Por isso, é muito comum que duas pessoas que viveram exatamente a mesma coisa tenham lembranças completamente diferentes, segundo as emoções que cada uma sentiu.


Em Divertida Mente 2, Vergonha (rosa), Ansiedade (laranja), Inveja (verde) e Tédio (azul) viram protagonistas.



Não existe emoção boa ou ruim

Uma das principais mensagens de Divertida Mente está relacionada à noção de que todas as emoções são importantes para nossa vida — mesmo aquelas que consideramos ruins, como tristeza, medo, nojo, raiva. Um pouco de tristeza é fundamental para a gente ter a clareza de encarar a realidade e os desafios da vida.


A raiva permite reagirmos às injustiças que nos cercam.

O medo nos faz evitar situações perigosas e potencialmente fatais.

Já o nojo impede o contato com um alimento estragado, que poderia causar uma infecção grave.


E esse mesmo racional se aplica às novas emoções, que são apresentadas na parte dois da animação: leves pitadas de ansiedade, por exemplo, nos permitem antecipar diferentes cenários e estar prontos para lidar com eles de forma satisfatória.


A ansiedade sobre apresentar um trabalho na escolar ou uma entrevista de emprego, por exemplo, faz com que eu me prepare para essas situações e fique melhor na hora de realizar essas atividades


Todas as emoções são importantes para a construção de nossa identidade. O problema é quando essas emoções saem do equilíbrio — e uma delas acaba tomando o centro de controle do cérebro. A alegria exagerada nos faz mal. É inegável que existe uma pressão cobrando-nos viver felizes o tempo todo. A tristeza em demasia desemboca em depressão. O medo excessivo paralisa. O nojo impede novas experiências. E assim por diante. Um cenário desses é retratado em Divertida Mente 2, quando a Ansiedade toma para si toda a responsabilidade e deixa as demais emoções em segundo plano. O que parecia benéfico num primeiro momento para Riley evolui para algo sufocante e prejudicial, como é possível acompanhar no filme. Em doses moderadas, a ansiedade antecipa problemas e permite um bom planejamento da vida .



Esquecer é algo positivo

No desenho, muitas das esferas de memória perdem as cores com o passar do tempo — e são descartadas numa espécie de “lixão cerebral”. Algo similar acontece na nossa cabeça e devemos encarar como uma dádiva, um presente.


Esquecer é algo saudável para nosso equilíbrio e nossa sobrevivência. Temos o desejo de não perder nada do que vivemos, mas descartar algumas memórias faz parte do nosso processo de aprendizado.

Nós conseguimos novas memórias porque reciclamos as lembranças que não são tão úteis assim.



O sono é o momento em que as memórias são organizadas

O filme também demonstra a importância do sono nesse processo de organização das recordações: é apenas quando Riley vai para a cama e “apaga” que as esferas são organizadas adequadamente. Isso também acontece no nosso cérebro durante o sono, mas infelizmente sem a presença de bonequinhos fofos e amigáveis. De acordo com a ciência, esse processo é mediado por pulsos elétricos, neurotransmissores e outros elementos que fazem a comunicação entre os neurônios e as demais células do sistema nervoso central.


As bases de nossa personalidade mudam

No desenho, o centro de controle do cérebro onde as emoções trabalham é conectado com uma série de bases, ou ilhas e elas representam aquilo que influencia a personalidade de Riley. Uma dessas estruturas trata da família, outra, das amizades, uma terceira, da prática de esportes (ou de hockey, mais especificamente). E assim por diante.



Uma mudança na interação com a família

Na segunda animação, é possível observar uma mudança importante nessas bases: o campo que representa a família diminui de tamanho, enquanto o das amizades fica maior. Isso é algo que acontece com todo mundo na passagem da infância para a adolescência. Nesse período, há uma mudança de prioridades. Os amigos passam a ser algo muito importante para nossa base de personalidade.

Esse processo de distanciamento dos pais, geralmente cercado de revolta e rebeldia, é extremamente natural e saudável.



Adquirindo a individualidade e a identidade

Até certo momento da vida, filhos e pais funcionam como uma unidade harmônica, quase numa simbiose, mas chega uma hora que não dá para continuar assim. O adolescente precisa descobrir quem ele é, qual a sua individualidade e identidade. E isso envolve um processo em que ele estabelece que é diferente daqueles que o criaram.

Esse momento costuma ser bem doloroso para os pais.


Readiquirindo a interação com a família

No final da adolescência e começo da vida adulta, a tendência é que essas cisões se amenizem — e os filhos busquem uma nova aproximação com a família. As memórias cheias de emoções formam o sistema de crenças, retratado na animação em cordas luminosas


As convicções e as crenças têm diferentes origens emocionais

Uma novidade no enredo de Divertida Mente 2 é o surgimento de uma espécie de subsolo do centro de comando do cérebro, com um lago, onde as emoções jogam as esferas com memórias mais relevantes. Dessa interação, surge uma corda que, ao ser tocada, diz uma frase. Uma lembrança alegre de Riley com a família gera um fio que repete: “Eu sou uma boa pessoa.” Outro, relacionado a um ponto marcado numa partida de hockey, garante: “Eu sou uma ótima jogadora.”


A Terapia cognitiva-comportamental pura

Traçando um paralelo com a TCC - terapia cognitivo-comportamental, essas cordas podem ser interpretadas pelo conceito de “crenças”. As crenças, pode-se chamar de convicções são formadas desde a infância e retratam o modo como nos relacionamos com o mundo,

Nossas crenças podem ser muito rígidas ou flexíveis. No começo do segundo filme, é possível ver que Riley tinha crenças positivas sobre si mesma, pois ela teve uma criação muito amorosa. Por isso, ela se considerava uma pessoa legal, que merecia ser feliz. Esse tipo de pensamento muda um pouco quando chega a adolescência. A ascensão de Ansiedade, Inveja, Tédio e Vergonha bagunça esse cenário. Riley passa a lidar com inseguranças, se afasta das amigas de infância e questiona suas capacidades. Nesse momento, ela desenvolve convicções que chamamos na terapia cognitivo-comportamental de ‘se – então'. Na animação, Riley cria pressupostos do tipo: “Se eu não entrar no time de hockey, então minha vida acabou.” De fato, nós fazemos esse tipo de conexão o tempo todo e as tomamos como verdades absolutas. É nesse momento que a intevenção de um terapeuta é importante, é quando essas conecxões identificadas e questionadas. Ou seja, grande parte do nosso sofrimento pode estar relacionado a coisas que acreditamos, mas não são necessariamente verdades, não existem evidências que de fato são verdadeiras.


O senso de ser

As crenças formam o ‘senso de ser’ — e é importante desenvolver uma flexibilidade cognitiva Em Divertida Mente 2, os tais fios que representam as crenças ou convicções se juntam e formam uma espécie de escultura. Para a terapia cognitivo-comportamental, esse objeto representa o ‘senso de ser'. Em outras palavras, é como se as memórias cheias de emoções formassem nossas crenças e convicções — que, por sua vez, interagem para criar uma espécie de identidade própria, ou como nos enxergamos diante do resto do mundo.


No início da animação, Riley possui uma escultura harmônica e bela, de tons suaves, que reforça aqueles sentimentos positivos de ser feliz e amada. Porém, com o avançar da trama — e a chegada da puberdade, com ansiedade e companhia limitada — a tal peça ganha formas duras e tortuosas, com cores fortes, que representam inseguranças, aflições e temores. Dependendo de como nossas crises internas se desenrolam, sofremos muito. Esse senso de ser pode ser rígido e inflexível, o que causa agonia, mas vemos que essa estrutura pode se tornar maleável e mudar de cor e forma de acordo com a situação. Essa flexibilidade cognitiva, algo que buscamos constantemente na psicoterapia, acontece quando nós conseguimos adequar nossas crenças segundo o que estamos vivendo e desse modo, nos questionamos o tempo todo e damos espaço para outras emoções atuarem.




Como Gerenciar Emoções Desafiadoras

Quando passamos por momentos difíceis, é comum experimentar uma variedade de emoções intensas, como tristeza, medo, preocupação, angústia e ansiedade. Reconhecer e aceitar essas emoções é o primeiro passo para lidar com elas de forma saudável.


Reconhecimento e Aceitação

• Identificação das Emoções: Reconheça a presença das emoções e dê um nome a elas.

• Acolhimento sem Crítica: Evite se julgar por sentir essas emoções. Entenda o contexto que levou a esse estado emocional.

• Aceitação do Desconforto: Aceite que o desconforto faz parte do processo de crescimento.


Comunicação e Ação

• Comunicação Assertiva: Sempre que possível, compartilhe de maneira assertiva o que está sentindo com as pessoas próximas.

• Análise e Ação: Reflita sobre o que pode ser feito a respeito dessas emoções. Baseie suas ações em seus valores pessoais, em vez de ser controlado pelas emoções. Você pode agir apesar delas.


O filme "Divertida Mente 2" nos lembra que nossas emoções são complexas e multifacetadas, mas essenciais para nossa identidade. Assim como Riley aprende a lidar com seus sentimentos, também podemos aprender a reconhecer, aceitar e agir de acordo com nossas emoções. Elas nos ajudam a entender o que é realmente importante, orientando nossas ações e refletindo nossos desejos e necessidades. Que possamos, como os personagens do filme, encontrar maneiras saudáveis de navegar pelo nosso mundo emocional.




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