A dificuldade da comunicação. Como é difícil ouvir!
A comunicação eficaz envolve tanto falar quanto ouvir, mas muitas vezes o foco recai apenas na primeira parte. Ouvir ativamente requer concentração e empatia, habilidades que nem sempre são praticadas adequadamente. Existem barreiras psicológicas que podem dificultar a escuta, como preconceitos, estereótipos e julgamentos prévios, que filtram e distorcem a mensagem recebida. Às vezes, a falta de habilidades interpessoais, como a incapacidade de reconhecer e validar as emoções do outro, também pode impedir uma comunicação eficaz.
Além disso, a comunicação é influenciada por fatores individuais e contextuais. Cada pessoa traz consigo sua bagagem emocional, experiências passadas e expectativas, que podem interferir na capacidade de ouvir de forma imparcial. O contexto da interação, incluindo o ambiente físico e emocional, pode afetar a qualidade da comunicação. Por exemplo, situações de conflito, estresse ou falta de tempo podem prejudicar a disposição para ouvir atentamente. Portanto, a comunicação eficaz requer não apenas a habilidade de falar, mas também a disposição genuína de ouvir, compreender e responder de maneira adequada, o que nem sempre é fácil de alcançar em meio a tantas variáveis e desafios.
A dificuldade da comunicação. Como é difícil ouvir! Para isso transcrevemos na íntegra um texto do Atur da Távola, onde ele tece observações sobre a difícil arte de ouvir:
O difícil facilitário do verbo "ouvir"
Texto de Artur da Távola
Numa mesma cena de telenovela, notícia de telejornal, num simples papo ou discussão, observo que a mesma frase permite diferentes níveis de entendimento.
Na conversação, dá-se o mesmo. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
Diante desse quadro venho desenvolvendo uma série de observações e como ando bastante entusiasmado com a formulação delas, divido-as com o competente eleitorado que, por certo, me ajudará passando-me as pesquisas que tenha a respeito.
Observe que:
Em geral o receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que o outro não está dizendo.
O receptor não ouve o que o outro fala: ele ouve o que quer ouvir.
O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que já escutara antes e coloca o que o outro está falando naquilo que se acostumou a ouvir.
O receptor não ouve o que o outro fala. Ele ouve o que imagina que o outro ia falar.
Numa discussão, em geral, os discutidores não ouvem o que o outro está falando. Eles ouvem quase que só o que estão pensando para dizer em seguida.
O receptor não ouve o que o outro fala, Ele ouve o que gostaria ou de ouvir ou que o outro dissesse.
A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que está sentindo.
A pessoa não ouve o que a outra fala. Ela ouve o que já pensava a respeito daquilo que a outra está falando.
A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ela retira da fala da outra apenas as partes que tenham a ver com ela e a emocionem, agradem ou molestem.
A pessoa não ouve o que a outra está falando. Ouve o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Vale dizer, ela transforma o que a outra está falando em objeto de concordância ou discordância.
A pessoa não ouve o que a outra está falando: ouve o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra.
A pessoa não ouve o que a outra fala. Ouve da fala dela apenas aqueles pontos que possam fazer sentido para as ideias e pontos de vista que no momento a estejam influenciando ou tocando mais diretamente.
Esses doze pontos mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar! O que há, em geral, são monólogos simultâneos trocados à guisa de conversa, ou são monólogos paralelos, à guisa de diálogo. O próprio diálogo pode haver sem que, necessariamente, haja comunicação. Pode haver até um conhecimento a dois sem que necessariamente haja comunicação.
Esta só se dá quando ambos os polos se ouvem, não, é claro, no sentido material de “escutar”, mas no sentido de procurar compreender em sua extensão e profundidade o que o outro está dizendo.
Ouvir, portanto, é muito raro. É necessário limpar a mente de todos os ruídos e interferências do próprio pensamento durante a fala alheia.
Ouvir implica uma entrega ao outro, uma diluição nele. Daí a dificuldade das pessoas inteligentes efetivamente ouvirem. A sua inteligência em funcionamento permanente, o seu hábito de pensar, avaliar, julgar e analisar tudo interferem como um ruído na plena recepção daquilo que o outro está falando.
Não é só a inteligência a atrapalhar a plena audiência. Outros elementos perturbam o ato de ouvir. Um deles é o mecanismo de defesa. Há pessoas que se defendem de ouvir o que as outras estão dizendo, por verdadeiro pavor inconsciente de se perderem a si mesmas. Elas precisam “não ouvir” porque “não ouvindo” livram-se da retificação dos próprios pontos de vista, da aceitação de realidades diferentes das próprias, de verdades idem, e assim por diante. Livra-se do novo, que é saúde, mas as apavora. Não é, pois, um sólido mecanismo de defesa.
Ouvir é um grande desafio. Desafio de abertura interior; de impulso na direção do próximo, de comunhão com ele, de aceitação dele como é e como pensa. Ouvir é proeza, ouvir é raridade. Ouvir é ato de sabedoria.
Depois que a pessoa aprende a ouvir ela passa a fazer descobertas incríveis escondidas ou patentes em tudo aquilo que os outros estão dizendo a propósito de falar.
Texto de Artur da Távola
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